Bol. CEO 5:3 Janeiro de 1988

ELIAS PACHECO COELHO (1950-1987)

Elias era um desses, que vivia para trabalhar. E trabalhava para nos ajudar a compreender a vida. A vida que fervilha por esses mares e por esses costões de pedra,. De onde ele caiu para não voltar.

Durou apenas dez anos nossa convivência. Apenas dez anos de eventuais contatos, desde que o conheci como estudioso das esponjas marinhas e, logo depois, vi transferir seu interesse e sua capacidade de trabalho para o estudo das aves marinhas.

Elias reconquistou o meio terrestre, trocando os óculos de mergulho pelos binóculos. Ninguém esperava por essa mudança, tamanha era sua dedicação à especialidade que abandonou. Ninguém poderia esperar, contudo, que ele voltasse tão cedo à intimidade do meio que havia deixado, e que o fizesse de modo tão trágico e involuntário. É verdade, porém, que ele não havia se afastado muito, em sua dedicada e delicada subida pelos penhascos rochosos das ilhas, onde investigava o surgimento de novas vidas nos ninhos de atobás. Talvez ele não tenha percebido quão próximo da borda perigosamente se encontrava. Talvez ele não visse claramente esse limite. Talvez, ao contrário, cercado de água e rocha, de sol e de vento, e de vida, ele tivesse uma clara compreensão de quanto tudo está interligado por tênue fio. Mar e terra. A vida no mar e a vida na terra. A vida e a morte. No mar e na terra.

Ele parecia não ter pressa de chegar. Porque queria sempre chegar pelo caminho que lhe parecia o mais correto. Vivia e trabalhava modestamente. Honestamente. Profissionalmente.

Elias se foi, mas deixou-nos o mar imenso com suas ilhas e ninhos e muitas perguntas ainda sem resposta. Deixou-nos a tarefa de prosseguir na busca de algumas dessas respostas, razão maior de sua vida.

Luiz Pedreira Gonzaga 31/08/87