AMERICAN BIRD CONSERVANCY

CATS INDOORS! THE CAMPAIGN FOR SAFER BIRDS AND CATS

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Esta é uma tradução adaptada do texto da campanha "Gatos dentro de casa! A campanha pela segurança das aves e dos gatos", da Americam Bird Conservancy.

PREDAÇÃO DE AVES E OUTROS ANIMAIS SILVESTRES

POR GATOS DOMÉSTICOS

Quantas aves e outros animais silvestres os gatos domésticos podem matar por ano nos Estados Unidos?

Ninguém sabe, apesar de que uma extrapolação racional a partir de dados científicos pode ser feita. A nível nacional, estima-se que os gatos matam centenas de milhões de aves e mais de um bilhão de pequenos mamíferos, como lebres, furões, esquilos, e outros, cada ano. Os gatos não matam apenas animais comuns, mas também espécies raras e ameaçadas para as quais a perda de um único animal é significante. A comunidade científica está cada vez mais preocupada com a predação causadas por gatos. Há mais de 66 milhões de gatos de estimação nos Estados Unidos. Uma recente pesquisa mostrou que aproximadamente 35% são mantidos dentro de casa, ao passo que 40 milhões de gatos com donos ficam livres para matar aves e outros animais silvestres, em todo ou parte do tempo. Somando-se a isto, milhões de gatos abandonados e ferais (alongados) circulam pelas ruas, suburbios, fazendas e áreas naturais. Abandonados por seus donos ou perdidos, ou descendentes de animais abandonados e sem nenhum contato com o homem, estes gatos são vítimas da irresponsabilidade humana através do abandono por seus donos e pela falha dos programas de esterilização de animais de estimação. Ninguém sabe quantos gatos abandonados há nos Estados Unidos, mas as estimativas variam de 60 a 100 milhões. Estes animais vivem uma vida curta e miserável.

A perda e fragmentação dos hábitats naturais, resultantes do desenvolvimento, construção de estradas, agricultura intensiva e outros usos da terra, são sem dúvida as principais causas do declínio das populações de aves. Entretanto os gatos domésticos são numerosos, eficientes, predadores exóticos, que assim contribuem para este declínio. Por exemplo, a fragmentação do hábitat facilita seu acesso aos animais silvestres, forçados a viverem em espaços cada vez menores. Ao invés de fornecerem abrigos para a vida silvestre, estes fragmentos podem ser armadilhas mortais.

Os gatos domésticos não são parte do ecossitema

O gato doméstico, Felis catus, é descendente do gato silvestres da África e sudoeste extremo da Ásia, Felis silvestris libyca. Foi domesticado no Egito há aproximadamente 4000 anos e introduzido na Europa há aproximadamente 2000 anos. Foram introduzidos na América do Norte quando os europeus aqui chegaram, mas foram trazidos em grande número durante a segunda parte do século XIX, numa tentativa de controlar as crescentes populações de roedores, associados com a expansão da agricultura. Algumas pessoas acreditam que os gatos matando certos animais, como ratos silvestres, são benéficos, mas os pequenos mamíferos nativos são importantes para manterem a diversidade biológica do ecossistema. Por exemplo, ratos e outros pequenos roedores são importantes fontes alimentares para aves como a a coruja Great Horned Owl, e os falconiformes Red-tailed Hawk, e American Kestrel.

Gatos competem com predadores nativos

Gatos domésticos têm nítidas vantagens com relação a predadores nativos. Eles dispõem de alguma proteção contra doenças, predação, competição e desnutrição, fatores que controlam predadores nativos como corujas, "bobcats", e raposas. Gatos com suprimentos contínuos de alimento não são vulneráveis a mudanças nas populações de presas. Ao contrário de muitos predadores nativos, os gatos não são estritamente territoriais, mantendo os membros de sua própria espécie fora de determinada área. Como resultado disto, os gatos podem existir em densidades populacionais muito maiores, competindo com predadores nativos por alimento. Além disto, os gatos são reprodutores prolíficos. Uma gata pode engravidar-se mais de três vezes por ano, com quatro a seis crias por gravidez.

Os gatos transmitem doenças para os animais silvestres

Gatos não vacinados podem transmitir raiva e estes animais são os mais frequentemente notificados como casos de raiva ao CDC - Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Suspeita-se também que os gatos estejam espalhando o vírus da leucemia felina ao leão da montanha na Califórnia e pode ter infectado a ameaçada pantera da Florida com a gastroenterite infecciosa dos felinos. A peritonite infeciosa dos felinos foi diagnosticada no leão das montanhas e lince, e o vírus da imunodeficiência dos felinos já foi encontrado na pantera da Florida e "bobcat".

Estudos sobre a predação por gatos

Extudos exaustivos sobre os hábitos alimentares de gatos domésticos que saem de casa, foram feitos nos últimos 50 anos na Europa, América do Norte, Austrália, África, e em pelo menos 22 ilhas. Estes estudos mostraram que aproximadamente 60 a 70% dos animais silvestres que gatos domésticos matam são pequenos mamíferos, 20 a 30% são aves, e mais de 10% são anfíbios, répteis e insetos. Os cientistas descobriram que o número e tipo de animais mortos por gatos varia grandemente, dependendo de cada indivíduo, época do ano e disponibilidade da presa. Alguns gatos que saem de casa matam mais de 100 animais por ano. Alguns se especializaram em matar aves enquanto outros matam principamente pequenos mamíferos. Um gato regularmente alimentado que frequentava uma estação de experimentação da vida silvestres foi relatado como tendo matado mais de 1600 animais (na maior parte pequenos mamíferos) ao longo de 18 meses. Gatos da zona rural capturam mais presas que os da zona suburbana ou urbana. As aves que nidificam ou se alimentam no chão são as mais susceptíveis à predação por gatos, bem como os ninhegos e filhotes de muitas outras espécies. A seguir são apresentados resumos de estudos específicos.

Wisconsin. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin compilaram os resultados de seus estudos sobre predação por gatos, que tiveram a duração de quatro anos, com dados de outros estudos, e fizeram a predição do número de aves mortas por gatos cada ano no Estado. A partir da estimativa do número de gatos soltos em áreas rurais, o número de aves mortas por gato, e a proporção de aves mortas, os pesquisadores calcularam que gatos soltos da zona rural matam pelo menos 7,8 milhões e talvez até 217 milhões de aves por ano em Wisconsin. Estimaram que em algumas partes do Estado, a densidade de soltos atinge 114 gatos por milha quadrada, ultrapassando qualquer predador nativo de porte semelhante. (Coleman, J.S. and S.A. Temple. 1995. How many birds do cats kill? Wildlife Control Technology:44.)

Virginia. Pesquisadores de Virginia compararam gatos domésticos livres em ambiente rural e outro mais urbanizado. Um total de 27 espécies nativas (oito aves, dois anfíbios, nove répteis e oito mamíferos, incluindo o "star-nosed mole", uma espécie com status especial no Estado) foram capturados por um único gato da zona rural. Quatro gatos urbanos capturaram 21 espécies nativas (seis aves, sete répteis, oito mamíferos). Entre janeiro e novembro de 1990 cada gato capturou uma média de 26 animais nativos na zona urbana, e 83 na zona rural. O estudo não contou presas mortas e completamente consumidas, presas mortas e deixadas em quaquer lugar ou presas não silvestres. (Mitchell, J. and R.A.Beck. 1992. Free-ranging domestic cat predation on native vertebrates in rural and urban Virginia. Virginia Journ al of Science 43:197-206.)

Gatos em comedouros para aves. Uma pesquisa de abrangência continental envolvendo 5.500 domicílios com comedouros para aves durante o inverno de 1989-90, mostrou que os gatos domésticos foram predadores significativos de aves nos comedouros. Espécies mortas por gatos nos comedouros incluiram o "Dark-eyed Junco", "Pine Siskin", "Northern Cardinal", e "American Goldfinch". (Dunn, E.H. and D.L. Tessaglia. 1994. Predation of birds at feeders in winter. J. Field Ornithology 65(1):8-16.)

Gatos em ilhas. Pelo fato de que as aves de ilhas evoluiram na ausência de mamíferos predadores, elas não têm mecanismos de defesa contra eles. Quando um predador eficiente como o gato doméstico é introduzido ou abandonado em uma ilha, a eliminação de toda uma população de aves pode ocorrer. Os gatos domésticos são considerados primariamente responsáveis pela extinção de oito espécies de aves de ilhas e pela erradicação de mais de 40 espécies da ilha de Nova Zelândia. As espécies de aves de ilhas que estão agora extintas basicamente em função dos gatos são as seguintes: "Stephen’s Island Wren", "South Island Thrush", "Chatham Island Rail", "Stewart Island Snipe", e o "Auckland Island Merganser". Na Ilha Marion, no Oceano Índico sub-Antártico, estimou-se que os gatos matam anualmente aproximadamente 450.000 aves marinhas antes que se iniciasse um programa de erradicação de gatos.

Predação da fauna silvestre por gatos em hábitats reduzidos a ilhas

Os gatos podem ter impactos significativamente altos em populações silvestres locais, especialmente em hábitats tipo "ilhas", como em parques urbanos e suburbanos, refúgios de vida silvestre e outros hábitats cercados por áreas antropizadas. Para as aves, a perda de espécies dos hábitats "ilhas" é bem documentada, e a predação de ninhos é uma importante causa de declínio de migrantes neotropicais. O "Point Arena mountain beaver", o rato cangurú de Stephen e o "Pacific pocket mouse", protegidos pelo Federal Endangered Species Act, vivem agora em hábitats ilhados criados pela destruição e fragmentação de seus hábitats na Califórnia. A predação por gatos domiciliados ou ferais destas espécies é uma séria ameaça a sua futura existência no hábitat que sobrou para elas.

Corrigindo quatro mitos a respeito da predação de aves e outros animais silvestres por gatos

Algumas pessoas equivocadamente acreditam que:

(1) Gatos bem alimentados não constituem perigo para a vida silvestre;

(2) Colocar um sino no gato é uma forma efetiva de evitar a predação;

(3) Interrompendo um ataque por um gato permite à presa escapar e viver;

(4) Gatos abandonados que vivem em colônias não apresentam perigo para a vida silvestre.

Gatos bem alimentados também matam aves. Gatos bem alimentados matam aves e outros animais silvestres porque o instinto de caça é independente da urgência da fome. Em um estudo apresentou-se a seis gatos um pequeno rato vivo enquanto estavam comendo seus alimento preferido. Todos os seis gatos pararam de comer, mataram o rato e em seguida voltaram a comer sua comida.

Gatos com colares com sinos também matam aves: Estudos mostraram que colares com sinos não são efetivos em prevenir que gatos matem aves ou outros animais silvestres. As aves não associam necessariamente o som de um sino com o perigo, e os gatos com sinos podem aprender a espreitar silenciosamente sua presa. Mesmo que o sino bata, baterá muito tarde e o sino não oferece nenhuma proteção para ninhegos desprotegidos e filhotes.

Aves que parecem escapar de gatos não sobrevivem ao ataque: Ao contrário da crença popular de que aves e outros animais podem ser recuperados de um ataque de gato e se recupera, os centros de reabilitação relatam que a maioria dos pequenos animais ofendidos por gatos acabam morrendo. Os gatos albergam muitos tipos de bactérias e virus em sua boca, muitos destes podendo ser transmitidos a suas vítimas. Mesmo que o tratamento seja administrado imediatamente, somente em torno de 20% dos atendidos sobrevivem ao ataque. Uma vítima que parece perfeitamente saudável pode morrer de hemorragia interna ou lesão de órgãos vitais. Os centros de reabilitação também relatam que uma grande percentagem dos animais atendidos são vítimas de ataques de gatos ou animais que ficaram órfãos devido a gatos. No Wildlife Rescue, Inc., em Palo Alto, California, aproximadamente 25% dos animais atendidos entre maio e junho de 1994 foram animais nativos atacados por gatos e quase a metade eram filhotes. Trinta por cento das aves e 20% dos mamíferos aos cuidados do Museu Lindsay Wildlife na California foram pegos por gatos. A predação da vida silvestre por gatos é especialmente frustrante para os que trabalham na reabiitação da vida silvestre. Estas perdas são totalmente desnecessárias porque ao contrário de outros predadores, gatos de estimação não necessitam destes animais para sobreviver.

Colônias de gatos são um problema para aves e outros animais: Gatos domésticos são animais solitários, mas frequentemente formam ajuntamentos em torno de uma fonte artificial de alimentação, como depósitos de lixo ou alimentos deixados para eles. Estas populações podem crescer muito rapidamente, e podem ter significativo impacto sobre as populações de animais silvestres, causando riscos à saúde de outros gatos, vida silvestre e homem. Dar alimento a estes gatos não previne a predação de aves e outros animais silvestres. Por exemplo, uma famosa colônia de garças com milhares de aves foi dizimada, e populações de pequenos pássaros decresceram, em Greynolds Park em Dade County, Florida, onde o número de gatos e gambás alimentados pelo homem explodiu.

Conclusão: Os gatos não são em último caso os responsáveis por matar nossa vida nativa – as pessoas é que o são. O único meio de evitar a predação por gatos domésticos à vida silvestre é que seus donos os mantenham dentro de casa.

Recentes estudos sobre a predação de aves e outros animais silvestres por gatos

Distrito de East Bay Regional Park, California: Um estudo de dois anos foi feito em dois parques com hábitat de campo. Um dos parques não tinha nenhum gato e no outro mais de 20 gatos eram alimentados diariamente. Aproximadamente o dobro de aves foram observadas no parque que não tinha gatos. Aves como o "California Thrashers" e o "California Quail", aves comuns que fazem ninho no chão, foram vistos durante os levantamentos no parque sem gatos mas nunca foram vistos no que tinha gatos. Adicione-se a isto o fato de que 85% dos ratos-veado nativos e ratos de colheita capturados o foram na área sem gatos, enquanto que 79% dos ratos domésticos, espécie exótica considerada praga, foram encontrados na área com gatos. De acordo com o Dr. Cole Hawkins, "Gatos com densidades artificialmente altas, mantidos por alimentação suplementar, reduzem a abundância de roedores nativos e populações de aves, mudam a composição de espécies de roedores e podem facilitar a expansão do rato doméstico nestas áreas." (Hawkins, C.C. 1998. Impact of a Subsidized Exotic Predator on Native Biota: Effect of House Cats (Felis catus) on California Birds and Rodents. PhD. dissertation, Texas A & M University, College Station. 66 pages.)

San Diego, California: Um estudo das relações entre o coiote, predadores de tamanho médio como gatos e aves que vivem em arbustos, foi conduzido entre proprietários de gatos que moravam ao longo da borda de canyons limites abruptos para determinar a quantidade e tipo de caça que seus gatos não domiciliados traziam para casa. Estes canyons são fragmentos isolados de hábitat que não ocorrem em outros lugares. Pediu-se aos proprietários que coletassem tudo que os gatos trouxessem para casa. As respostas mostraram que em média cada gato que caçou alguma coisa trouxe 24 roedores, 15 aves, e 17 lagartos por ano. Dependendo do tamanho do canyon, é possível que exista dezenas a centenas de gatos não domiciliados com acesso a cada fragmento de hábitat urbano. Comparativamente, os canyons frequentemente mantêm somente um ou dois pares de predadores nativos como o coiote ou a raposa cinzenta. Os pesquisadores estimaram que "... estes gatos, no entorno de um fragmento de tamanho médio trazem aproximadamente 840 roedores, 525 aves e 595 lagartos para suas residências cada ano." "Este nível de predação de aves parece ser insustentável. Algumas populações de aves não ultrapassam 10 indivíduos em pequenos e médios fragmentos, assim, mesmo pequeno aumento na pressão de predação por predadores de tamanho médio, juntamente com os efeitos da fragmentação, pode rapidamente levar as espécies predadas, especialmente as raras, à extinção." " O estudo mostrou também que em pequenos canyons onde o coiote não existia, houve um aumento nas populações dos predadores de tamanho médio como gatos, raccoons, e opossum, e um drástico declínio na diversidade e em alguns casos eliminação de aves que nidificam em arbustos. Por outro lado, nos grandes canyons onde os coiotes ainda estavam presentes, estas aves também permaneceram. (Crooks, K.R. and M.E. Soule. 1999. Mesopredator release and avifaunal extinctions in a fragmented system. Nature 400:563-566.)

Inglaterra: A Mammal Society realizou uma pesquisa sobre os tipos e número de animais mortos por gatos domésticos. Eles compilaram as mortes causadas ou capturas feitas por 964 gatos, totalizando mais de 14.000 itens de presas durante um período de cinco meses em 1997. O número médio de capturas ou mortes por gatos foi de 16,7, o que dá uma média anual por gato de 40 vítimas. Multiplicando a estimativa da indústria de pets de 7,5 milhões de gatos, sugere que a população de gatos da Inglaterra pode ter matado pelo menos 300 milhões de animais e aves por ano. Não se incluem aqui os animais que os gatos mataram e comeram longe de suas casas, nem as mortes causadas por 800.000 gatos ferais que se acredita existam na Inglaterra. A média de mortes causadas por gatos com sinos foi de 19 e para gatos sem sinos 15. Em outras palavras, gatos usando sinos mataram mais. Um total de 3.383 aves foram capturadas por aves na pesquisa, 24% das presas capturadas ou mortas. "A despeito de que não se acredita que os gatos sozinhos poderão tornar uma espécie ameaçada na Inglaterra, para aquelas que já estão sob pressão por outros motivos, como sabiás e outros, os gatos podem tornar-se significativos." (The Mammal Society. 1998. Look what the cat’s brought in! http://www.abdn.ac.uk/mammal/catkills. html)