Diário do caipira 

Eu já morei na cidade mas não pude ser feliz 
Voltei a viver no mato onde está minha raiz 
Eu hoje quando acordei fiz a oração costumeira 
antes de tomar café eu me banhei na cachoeira 
caminhei lá pro curral pra desleitar a Rancheira 
Parei para assunta o canto do sabiá-laranjeira 
Passarinho apaixonado que traz no canto 
Magoado 
A poesia brasileira 
Eu já morei na cidade... 
Logo depois que almocei fui descendo a corredeira 
Ver a ceva de piau no poço da gameleira 
Pesco quase todo dia eu gosto da brincadeira 
Mas só pego um ou dois, desperdiçar é besteira 
Somos só dois no ranchinho, gosto de peixe fresquinho 
E aqui não tem geladeira 
Eu já morei na cidade... 
Subi para apanhar lenha beirando a capoeira 
Observei lá na roça o rastro de uma mateira 
Voltei, trelei os magrelo, pus o baio na cachoeira 
porque amanhã é domingo,quero dar uma carreira 
com um poquinho de sorte quem sabe ela vai pro corte 
No baque da cartucheira 
Eu já morei na cidade... 
To rematando o serviço, só pego segunda-feira 
O sol vai rapando o morro e a sombra desce a ladeira 
to feliz e vou pensando que eu fiz a coisa certeira 
Caboclo ir pra cidade é cair na ratoeira 
Enfim terminou meu dia, é hora da ave-maria 
Vou rezar com a companheira.