CENTRO DE SÃO PAULO

 

Doze áreas verdes da região central da Cidade de São Paulo foram escolhidas para o reconhecimento da avifauna desta região. Esta avifauna compreende sem dúvida as espécies com melhores condições de sobrevivência na área urbana. As áreas escolhidas foram o Parque da Luz, a Praça Princeza Izabel, o Largo do Arouche, a Praça da República, a Praça Dom José Gaspar, a Ladeira da Memória, a Praça Ramos de Azevedo, o Largo Paissandu, o Largo São Bento, a Praça da Sé e o Parque Dom Pedro II.

 

O Parque da Luz, o mais antigo jardim público da cidade, com 81.758 m2, é a maior área verde da região. Por ser uma área verde bem antiga, a proximidade com um fluxo intenso e diário de pessoas fez com que algumas das espécies adquirissem um grau elevado de mansidão, sendo talvez a área da cidade onde conseguimos nos aproximar mais delas. A vegetação é exuberante, pela antiguidade das árvores e também pela diversidade. Recentemente foram ali instalados em meio ao arvoredo painéis com fotos de aves de autoria de Edson Endrigo, que são um excelente auxílio aos iniciantes no reconhecimento das espécies de aves que ali ocorrem.

 

Chama a atenção na região central de São Paulo a abundância de algumas espécies de aves. O periquito-rico, por exemplo, parece ser aqui mais frequente que nas matas nativas, seu habitat natural. Certamente contribui para isto a diversidade de plantas, muitas delas exóticas, como muitas palmeiras, que produzem frutos apreciados por estas aves. Da mesma forma as paineiras e as jaqueiras do Parque da Luz.

 

Algumas aves menores como o relógio, a corruíra, o tico-tico e outras, parecem morar em apenas um área verde, permanecendo sempre nela. Mas a maioria mostra-se bastante móvel, indo de uma área verde a outra, à procura de alimento. Entre estas os sabiás, sanhaços e notavelmente o periquito-rico. Estes foram vistos voando baixo entre os prédios em ruas movimentadas do Centro, virando nas esquinas, mostrando um conhecimento perfeito de suas rotas diárias.

 

Uma ave encontrada em todas as 12 áreas estudadas é o teque-teque. Certamente isto se dá pelo fato de ser bem pequena e alimentar-se de pequenos insetos. Desta forma, algumas poucas árvores numa praça isolada são suficientes para fornecer seu alimento e servirem de suporte para seu ninho que fica pendurado lá no alto. No Parque Dom Pedro, que tem áreas gramadas e com terra nua, pode-se encontrar o joão-de-barro e no alto dos eucaliptos seus ninhos. Também neste Parque, que tem um extenso gramado com árvores esparsas, simulando uma savana, há espaço suficiente para os vôos e acrobacias da tesourinha.

 

Alguns prédios têm muitas plantas nas sacadas e pode-se ver aves como beija-flores, cambacica e sanhaços frequentando estes lugares à procura de frutinhos ou flores com néctar. Também alguns terraços, como o do prédio do antigo Banespa, ao lado do viaduto do Chá, são muito frequentados por algumas aves.

 

Muitas espécies se reproduzem nos parques e praças do Centro e usam à vezes algumas estratégias insólitas, aproveitando para fazer o ninho com o material que estiver mais fácil de achar. Voi visto certa vez no Anhangabaú um ninho de tico-tico feito inteiramente com tiras de papel que haviam sido jogadas dos prédios nas comemorações de fim de ano.

 

A presença de uma espécie visitando uma determinada área do centro pode depender da presença de uma única planta, como por exemplo o sanhaço-cinza visitando uma amoreira com frutos na Praça da Sé ou o tesourão visitando flores com néctar numa árvore frondosa na Praça da República. Observando isto, fica fácil para um paisagista programar não só que plantas colocará em seu jardim, mas também que aves o visitarão. Se tiver o cuidado de incluir plantas que florescem e frutificam em diferentes meses do ano, terá também a presença das aves em todas as estações.

 

As características da avifauna desta região podem apresentar pequenas mudanças com o tempo, na dependência até dos acontecimentos políticos! Numa época em que os jardins foram pouco cuidados, por uma alegada falta de verbas, os capins cresceram e pendoaram, favorecendo o aparecimento de granívoros, como o bico-de-lacre. Por outro lado, recuperações de espelhos d’água permitiram o retorno de aves ribeirinhas, como a garça-branca-pequena vista descendo para pescar no lago da Praça da República.

 

Um pequeno bando da maracanã-nobre que se encontrava em cativeiro foi solto na cidade e hoje estas aves têm sido vistas em diversos bairros, inclusive na região central. Trata-se de uma espécie ameaçada de extinção no Estado e este grupo parece estar se reproduzindo e se mantendo dentro da cidade. Ironicamente, a cidade, que constitui uma dramática transformação do ambiente natural para a vida silvestre, está servindo aqui como refúgio seguro para esta pequena população.